terça-feira, 22 de junho de 2010

NATUREZA MORTA

O termo natureza-morta é dado a uma pintura ou a um desenho de objetos inanimados. Comumente são utilizados frutas, animais abatidos (peixes, aves, crustáceos em geral) ou utensílios domésticos (bules, copos, pratos, vasos, entre outros) colocados, na maioria das vezes, sobre uma mesa. Em suas pinturas ou desenhos, enquanto alguns pintores adotam uma reprodução fiel do objeto observado, outros dão um tratamento diferenciado da realidade.

Embora já houvesse traços de natureza-morta em murais da Roma Antiga, é no início do Barroco, durante o século XVI, que ela tornou-se independente ao retratar temas religiosos em cozinhas populares, como o óleo sobre tela de Diego Velázquez, “Cristo na casa de Marta e Maria” (National Gallery de Londres – Inglaterra):




A luz, importante elemento visual da arte do Barroco, é o que dá ritmo à obra, conduzindo o olhar sobre a composição e aos níveis de profundidade. Percebe-se que a reprodução ideológica do objeto observado, dentro de um contexto religioso, traria certas interpretações. “A natureza-morta passou a funcionar como metáfora moralizante dentro da cultura católica: a fruta que é bela por fora, mas apresenta indícios de podridão interna; ou apenas uma fruta que ostenta uma beleza tentadora e perigosa”. (3) Mais tarde, outras representações, fora desse contexto religioso, definiriam mais uma função da natureza-morta – o livro representava a sabedoria, a caveira representava a brevidade da vida. (Paul Cézanne – Pirâmide de Crânios, Grand Palais Exhibition, Paris, França, 1900).



Na Espanha, chamada de “bodegón”, a natureza-morta tinha o intuito de demonstrar a imagem do objeto que representasse harmonia, serenidade e bem-estar por meio de efeitos de luz, cores e perspectivas. O artista espanhol tornava-se cada vez mais respeitado à medida que demonstrava ter um amplo conhecimento técnico-artístico para a representação da realidade.

No século XVII, considerada inferior em relação às pinturas históricas, mitológicas e religiosas, a natureza-morta tinha seu preço desvalorizado no mercado das artes. Vista como uma pintura meramente decorativa, ela ocupava, nos Países Baixos, os cômodos mais humildes dos lares populares. A tentativa de se afastar dessa ideologia católica fez com se passasse a retratar o uso cotidiano dos objetos das casas populares holandesas.

O pintor holandês Veermer, em sua obra “A leiteira” (tela pintada por volta de 1669) retratou o trabalho lento e meticuloso que retratava uma típica mulher holandesa da época. Com completa precisão, o pintor retrata a realidade de uma camponesa junto a objetos e comidas do cotidiano. Veermer age como um fotógrafo ao descrever com suavidade e com riqueza de detalhes a cena descrita.




A partir do século XVIII, na Espanha, a natureza-morta começou a ter mais prestígio nas classes sociais mais abastadas. O peixe, por exemplo, deixou de ser representado a partir de uma manifestação religiosa para retratar o elevado poder econômico de seu consumidor. Como Madri era localizada no centro do país, distante do mar, o peixe fresco era um produto muito mais caro do que o seco e, por conseguinte, era apenas adquirido por classes sociais com maior poder aquisitivo.

No século XIX e no início do século XX, a natureza-morta afasta-se definitivamente de qualquer gênero preestabelecido. A partir do estudo de novas técnicas, mediante a aplicação de cores, composições, perspectivas, ela serviu para a pesquisa plástica dos artistas. O naturalismo do século XVII definitivamente perderia sua importância em prol das novas concepções estéticas na arte.

Na obra de Cézanne, “Natureza morta com maçãs e laranjas”, por exemplo, há uma preocupação estética por parte do artista que não se resume, apenas, à mera representação científica do objeto. A distorção provocada pelos objetos pintados, tomando como origem diversos planos de perspectiva, denota um afastamento dos preceitos do Naturalismo. Cézanne, nessa obra, preocupa-se em preencher todo o espaço da tela, aplicando assim novas técnicas de angulação nessa representação. A realidade, agora distorcida, representaria dois pólos distintos: o da realidade científica e o da visão que retratava distintas “realidades”.





Arte e Representação



Essa obra do pintor Magritte, “Isto não é uma maçã”, exemplifica uma possível discussão sobre diferentes interpretações oriundas daqueles que observam um objeto. O artista quis demonstrar que a maçã pintada na tela não retratava a realidade. Magritte, associado aos surrealistas, questionava o que era a realidade.

Conforme afirmava Fernand Léger, “é tarefa do artista fazer algo tão bonito quanto a natureza, mas em imitar a natureza”. Assim, evidencia-se o caráter criativo e individual do olhar e do registrar.

Em 1959, Marcel Duchamp tratou o tema da natureza-morta de forma irônica e divertida quando construiu a obra “Escultura morta”. Ele fez críticas à arte tradicional, defendendo que arte não era o que víamos, mas sim o que pensamos ao observá-las.

Os artistas tem muita dificuldade de fazer uma natureza-morta; dado o tempo necessário para a pintura, muitas vezes o artista tem de conviver com a deterioração do produto observado, no caso de alimentos naturais, peixes, etc. Isso faz com que o autor da obra muitas vezes tenha de refazê-la, demonstrando a importância da observação, da memória e da sensibilidade na pintura.

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